O romance entre Heloísa e o filósofo
Pedro Abelardo iniciou-se em Paris, no período entre o final da
Idade Média e o início da Renascença.
Abelardo havia sido
recentemente pela Escola Catedral de Notre Dame, tornando-se, em
pouco tempo, muito conhecido por admirar os filósofos não-cristãos, numa época de forte poder da Igreja Católica.
Heloísa, que já
ouvira falar sobre Abelardo e se interessava por suas teorias
polêmicas, tentou aproximar-se dele através de seus
professores,
mas suas tentativas foram em vão.
Numa tarde
Heloísa saiu para passear com sua criada Sibyle, e aproximou-se de um grupo de estudantes reunidos em torno de alguém. Seu
chapéu foi levado
pelo vento, indo parar justamente nos pés do
jovem que era o centro da atenções, o mestre Abelardo. Ao
escutar seu nome, o coração de Heloísa disparou. Ele apanhou o
chapéu, e quando Heloísa aproximou- se para pegá-lo, ele
logo a
reconheceu como Heloísa de Notre Dame, convidando-a para
juntar-se ao grupo. Risos jocosos foram ouvidos, mas cessaram
imediatamente quando o olhar
dos dois posaram um sobre o outro.
Heloísa recolocou seu chapéu, fez uma reverência a Abelardo e
se retirou.
Desde
esse encontro, porém, Heloísa não consegui mais esquecer
Abelardo. Fingiu estar doente, dispensou seus antigos professores
e passou a interessar-se pelas obras de Platão e Ovídio, pelo
Cântico dos Cânticos, pela alquimia e pelo estudo dos filtros,
essências e ervas. Ela sabia que Abelardo seria atraído por
suas atividades e viria até elas. Quando ficou sabendo dos
estudos de Heloísa, conforme previsto por ela Abelardo
imediatamente a procurou.
Abelardo tornou-se amigo de
Fulbert de Notre Dame, tio e tutor de Heloísa que logo o aceitou
como o mais novo professor de sua sobrinha, hospedando-o em sua
casa, em troca das aulas noturnas que ele lhe daria. Em pouco
tempo essas aulas passaram a ser ansiosamente aguardadas e, sem
demora, contando com a confiança de Fulbert, passaram a ficar a
sós. Fulbert ia dormir, e a criada retirava-se discretamente
para o quarto ao lado.
Em alguns meses,
conheciam-se muito bem, e só tinham paz quando estavam juntos.
Um dia Abelardo tirou o cinto que prendia a túnica de Heloísa e
os dois se amaram. A partir desse momento Abelardo passou a se desinteressar-se de tudo, só pensando em
Heloísa, descuidando- se de suas obrigações como professor.
Os problemas começaram a surgir. Primeiro,
esse amor começo a esbarrar nos conceitos da época, quando os
intelectuais, como Heloísa e Abelardo,
racionalizavam o amor, acreditando que os impulsos sensuais deveriam
ser reprimidos pelo
intelecto. Não havia lugar para o desejo, que era um componente
muito forte no relacionamento dos dois, originando um intenso
conflitos para ambos. Ao mesmo tempo Sibyle, a criada, adoecera,
e uma outra serva que a substituíra encontrou uma carta de Abelardo dirigida a Heloísa, e a entregou a Fulbert, que
imediatamente expulsou Alberto. No entanto isso não foi
suficiente para separá-lo.
Heloísa preparou poções para
seu tio dormir e, com a ajuda da criada Sibyle, Abelardo foi
conduzido ao porão, local que passou a ser o ponto de encontro
dos dois.
Uma
noite, porém, alertado por outra criada, Fulbert acabou por descobri-los. Heloísa foi
espancada, e a casa passou a ser
cuidadosamente vigiada. Mesmo assim o amor de Abelardo e Heloísa
não diminuiu, e eles passaram a se encontrar onde pudessem, em
sacristias, confessionários e catedrais, os únicos lugares que
Heloísa podia freqüentar sem acompanhantes a seu lado.
Heloísa acabou engravidando, e para evitar
aquele escândalo, Abelardo levou-a à aldeia de Pallet, situada
no interior da França. Ali, Abelardo deixou Heloísa aos
cuidados de sua irmã e voltou a Paris, mas não agüentou a
solidão que sentia, longe de sua amada, e resolveu falar com
Fulbert, para pedir seu perdão e a mão de Heloísa em
casamento.Surpreendentemente, Fulbert o
perdoou e concordou com o casamento.
Ao
receber as boas novas, Heloísa, deixando a criança com a irmã
de Abelardo, voltou a Paris, sentindo, no entanto, um prenúncio
de tragédia. Casaram-se no meio da noite, às pressas, numa
pequena ala da Catedral de Notre Dame, sem nem trocar alianças
ou um beijo diante do sacerdote.
O
sigilo do casamento não durou muito, e logo começaram a zombar
de Heloísa e da educação que Fulbert dera a ela. Ofendido,
Fulbert resolveu dar um fim àquilo tudo. Contratou dois
carrascos e pagou-os para invadirem o quarto de Abelardo durante
a noite e arrancar-lhe o membro viril.
Após essa tragédia, Alberto e
Heloísa jamais voltaram a se falar.
Ela ingressou no
convento de Santa Maria de Argenteul, em profundo estado de
depressão, só retornando à vida aos poucos, conforme as
notícias de melhora de seu amado iam surgindo. Para tentar
amenizar a dor que sentiam pela falta um do outro, ambos passaram
a dedicar-se exclusivamente ao trabalho.

Abelardo construiu uma escola-mosteiro ao
lado da escola-convento de Heloísa. Viam-se diariamente, mas
não se falavam nunca. Apenas trocavam cartas apaixonadas.
Abelardo morreu em
142, com 63 anos, Heloísa ergueu um grande sepulcro em sua homenagem, e faleceu algum tempo depois, sendo, por iniciativa de
suas alunas, sepultada ao lado de Abelardo.
Conta-se que, ao abrirem a
sepultura de Abelardo, para ali depositarem Heloísa, encontraram
seu corpo ainda intacto e de braços abertos, como se estivesse aguardando a chegada de Heloísa.
( Livro Almas
Gêmeas - Monica Buonfiglio )
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